Ruy Carlos de Camargo Vieira
(Engenheiro Mecânico e Eletricista, Professor Emérito da
Escola de Engenharia de São Carlos, da Universidade de São Paulo,
ex-Conselheiro do Conselho Federal de Educação, e Fundador e Presidente da
Sociedade Criacionista Brasileira)
1. INTRODUÇÃO
A motivação para escrever este artigo foi a palestra
efetuada há treze anos em um Encontro de Professores da Associação Planalto
Central da Igreja Adventista do Sétimo Dia realizado em Brasília, ocasião em
que pude apresentar alguns dados que havia coletado sobre o início da Educação
Adventista nos Estados Unidos da América, cuja divulgação julguei oportuna em
nosso meio. (1)
Esses dados incluíam interessantes observações que haviam
sido apreciadas pela Conferência Geral da Igreja Adventista do Sétimo Dia
realizada em 1903, em Oakland, Califórnia, tanto em Relatório sobre a Educação Adventista
(2), apresentado em 7 de abril, pelo Pastor Edward Alexander Sutherland (então
Departamental de Educação da Associação Geral) (3), como também em “Sermão
sobre a Educação Cristã” (4) proferido em 10 de abril pelo Pastor Alonzo T.
Jones (na época Presidente da Associação da Califórnia da Igreja Adventista do
Sétimo Dia).
(5) Dentre tais observações, puderam ser destacados alguns
importantes aspectos ligados à propugnação da Educação Cristã desde os tempos
da pregação de Guilherme Miller, posteriormente trazidos à Igreja Adventista
por Ellen White, “tendo então Deus posto perante o Seu povo as bases de um
sistema de educação cristã”.
Puderam, também, ser destacadas naquelas observações,
algumas preocupações expostas pelo Pastor Sutherland referentes à educação
adventista e ao panorama geral da educação secular nos E.U.A. no início do
século vinte. Naquela época, conforme o Relatório do Pastor Sutherland, havia
cerca de 35.000 crianças e jovens na denominação, dos quais apenas 5.000
estudavam nas escolas denominacionais. Lamentava o Pastor Sutherland que então
cerca de 30.000 crianças e jovens estivessem sendo educados em instituições que
nada tinham a ver com as peculiaridades dos processos e objetivos da educação
visados pela denominação. E trazia ele àconsideração um impressionante dado: o
número dos filhos dos que tinham sido adventistas desde cinquenta anos atrás, e
que haviam deixado a Igreja, era maior do que o número de membros então
existentes ao escrever ele o seu Relatório! Dentro desse quadro, comentou ele a
importância do sistema educacional para a formação e o fortalecimento dos
quadros da Igreja, e terminou o seu Relatório com a advertência de que a
Igreja, então, de posse de tão grande luz sobre a educação cristã, não viesse a
incidir nos mesmos erros cometidos no decorrer do século dezanove pelas denominações
evangélicas nos E.U.A., que passaram a confiar mais na educação secular do que
nos princípios bíblicos que indicam os verdadeiros caminhos que levam à vida
eterna!
Ressaltou, ainda, o Pastor Sutherland em seu Relatório, que
preocupação análoga era manifesta externamente à Igreja, como verificado em
pronunciamento de um dos mais conceituados educadores americanos, Charles
William Eliot, Presidente da Harvard University, que, falando em uma reunião de
professores em New Haven, na Nova Inglaterra, em 17 de outubro de 1902, havia
destacado as necessidades a serem satisfeitas pela educação, em face das
deficiências do processo educacional então vigente. [A hoje famosa Harvard
University (bem como Yale) nada mais eram, no início, do que Escolas Bíblicas
cujo objetivo era formar ministros que levassem o
Evangelho para o mundo. Entretanto, em pouco tempo Yale e
Harvard perderam de vista sua perspectiva cristã e se tornaram escolas
seculares, meramente “clássicas”, despojadas da visão cristã da educação.]
Conforme as próprias palavras do Presidente da Harvard
University, citadas pelo Pastor Sutherland, a ineficácia da educação secular
americana podia ser comprovada pelas seguintes oito grandes frustrações
encontradas então no seio da sociedade americana, e cuja atualidade,
praticamente um século depois, não deixa de ser impressionante tanto no âmbito
dos próprios E. U. A. quanto também em nosso país:
“1. Alcoolismo (hoje abrangendo também o uso e abuso de
entorpecentes);
2. Jogos de azar (hoje incluindo loterias e similares,
patrocinados pelo próprio poder público);
3. Má gestão da coisa pública (hoje incluindo corrupção
generalizada nos órgãos públicos);
4. Crime, violência e insegurança (hoje abrangendo estupros,
seqüestros, e terrorismo);
5. Publicações degradantes (hoje se estendendo a todos os modernos
meios de comunicação);
6. Espetáculos teatrais populares (hoje invadindo os lares
mediante programações imorais da Televisão);
7. Charlatanismo médico (hoje adicionado à propaganda
enganosa de tratamentos miraculosos e medicamentos ineficazes e prejudiciais);
8. Greves trabalhistas (hoje abrangendo a violência de
outros movimentos sociais reivindicatórios).” (6)
E tentando procurar as raízes dessas mazelas sociais, o
Presidente da Harvard destacou como uma das principais causas desse panorama o
fato de que, desde a Guerra Civil Americana (terminada em 1865), a influência das
igrejas havia sensivelmente diminuído nos E. U. A.: “Seu controle sobre a educação diminuiu
distintamente. Algumas denominações parecem ater-se a uma metafísica arcaica e
a um imaginário poético mórbido [isto é, à chamada “alta crítica”].
Outras, aparentemente, tendem a refugiar-se nas cerimónias,
pompa, tradições e observâncias.” (7)
Complementando a visão histórica apresentada pelo Pastor
Sutherland, reforçada pelo Presidente da Harvard University, o Pastor Jones
destacou em seu sermão as legítimas aspirações que o mundo secular apresentava,
e mostrou que somente a educação cristã seria capaz de atendê-las. Após várias
considerações, é surpreendente que ele tenha se concentrado no tema da
necessidade de uma reforma educacional
centrada no criacionismo bíblico, em contraposição à avalanche evolucionista
surgida após 1859 com a publicação de “A Origem das Espécies” e que (segundo ele, e com nossa total concordância)
em grande parte estava sendo a responsável pelos fracassos e frustrações da
educação secular nos Estados Unidos: “Então o que se torna necessário? É
necessário um movimento de reavivamento, de reforma, hoje, como nos dias de
Lutero. E uma reforma baseada nos mesmos princípios defendidos então por Lutero.
Princípios que repudiaram o método secular, com suas raízes na Grécia clássica.
... (e puseram) a Bíblia em seu verdadeiro lugar, como fonte de toda educação.
... (Lutero) concitou o povo a não mandar seus filhos para escolas que não se
baseassem predominantemente na Bíblia. E é esta a mensagem que necessitamos
hoje, a mensagem que os Adventistas do Sétimo Dia têm a obrigação de pregar
hoje ao mundo. A esta pregação sucederá uma reforma. ... A educação será
concebida em termos do criacionismo; a Igreja que ministrará esta educação para
o mundo será uma igreja criacionista, em contraposição ao evolucionismo. ... E
quem poderá proceder desta forma senão o povo que guarda em sua vida o memorial
da criação? Por que Deus nos deu o Sábado? Uma das maiores razões pelas quais
ele nos deu o Sábado é para que fôssemos guardiões da Criação nestes dias em
que o evolucionismo está arrastando o mundo para longe de Deus. ... A Igreja
estabelecerá um sistema educacional que verdadeiramente educará todos os que
por ele passarem ... e a educação por ela provida será verdadeira educação para
hoje e para a eternidade.” (8)
Em face deste quadro, que não deixa de ser bastante atual
tanto nos E. U. A. como em nosso país, apesar de decorrido praticamente um
século, qual deveria ser a nossa mensagem precípua hoje para o mundo? Sem
dúvida é a mensagem criacionista centrada na educação cristã! Daí a motivação
para escrever este artigo sobre “Uma Visão Criacionista da Educação”, com a
esperança de que ele possa também despertar educadores cristãos a perseverar em
sua missão.
2. CONSIDERAÇÕES INICIAIS SOBRE EDUCAÇÃO
2.1. BREVES OBSERVAÇÕES ETIMOLÓGICAS E SEMÂNTICAS SOBRE EDUCAÇÃO
Para discernirmos melhor uma visão criacionista da Educação,
certamente convém procurarmos não só a etimologia desse termo, como também
explorarmos alguns aspectos semânticos pertinentes.
Educação provém do Latim, reportando-se à raiz do verbo duco,
ducere, cujo significado básico é conduzir.
Deste verbo procedem dois outros, com significados bastante
próximos – educo, educare, e educo, educere. O primeiro significa nutrir,
amamentar; educar, instruir, ensinar, amestrar. O segundo, criar, nutrir, manter, sustentar. Derivados
destes verbos são educator, a pessoa que cria, educatus, a pessoa criada, e
educatio, a ação de criar.
(9)
Uma peculiaridade da
língua portuguesa é o termo criança, para designar a pessoa que está sendo
criada, o educando por excelência! Em outras línguas criança deriva de raízes
distintas, mais ligadas à acepção de filho, como exemplificado, por exemplo, em
Espanhol niño, em Francês enfant, e em Inglês child.
A educação, semanticamente, é portanto um processo. Nele, o
educando vai sendo conduzido por um determinado caminho para atingir os
objetivos visados. A criança (ou educando) vai sendo nutrida, instruída,
mantida e sustentada – nos aspectos físico e mental.
Ressalta neste processo, evidentemente, a importância que
assume o papel do educador. É dele que, fundamentalmente, depende o processo
educativo. A secularização da educação, hoje generalizada, deve-se precipuamente
a educadores de mente secularizada, e da mesma forma a educação criacionista só
pode se tornar uma realidade mediante a atuação de educadores criacionistas
devidamente capacitados, conscientes da verdadeira natureza da controvérsia
entre as estruturas conceituais criacionista e evolucionista.
2.2. O PROCESSO EDUCATIVO
Dentre os parâmetros que influem na condução do processo
educativo, de maneira geral, situam-se as definições a serem dadas aos fatores
que nela intervêm, como por exemplo:
1. o caminho a ser percorrido,
2. os objetivos a serem visados,
3. a competência do educador para a execução de sua tarefa.
Em função das distintas estruturas conceituais adotadas
aprioristicamente para a definição do processoeducativo, poderemos ter dois
extremos excludentes – a educação cristã, de cunho criacionista, e a educação
secular, de cunho evolucionista.
• Sob o ponto de vista da educação cristã, deve-se seguir o
caminho preconizado para os israelitas ao saírem do Egito, com o objetivo de
prepará-los para serem um povo peculiar, com a missão de levar ao mundo o conhecimento
do verdadeiro Deus.
Em Deuteronómio, capítulo 6, versículos 4 a 7, fica claro o
processo que deveria ser seguido nesse caso – “estas palavras ... tu [os pais]
as inculcarás a teus filhos”.
Dão os dicionaristas para o verbo inculcar o sentido de
“apontar, citar, recomendar, propor, indicar, aconselhar”. É este um caminho no
qual o educador respeita a personalidade do educando em seus aspectos físico,
mental e espiritual!
• Na educação secular, por outro lado, tem sido adoptado um
caminho com fundamento no racionalismo, no agnosticismo, no materialismo e no
ateísmo, que tem imposto conceitos preconcebidos e estabelecido paradigmas axiomáticos
apresentados como verdades incontestes, frontalmente contrárias aos
ensinamentos bíblicos.
É este o caminho que, lamentavelmente, em termos de
sociedade, em seu extremo sabidamente leva ao autoritarismo e ao totalitarismo,
com todas as suas funestas consequências, como tem sido demonstrado pela própria
história. Haja vista o surgimento de “condutores” (seriam educadores?) como,
por exemplo, o Ducce na Itália fascista e o
Führer na Alemanha nazista, com todos os conhecidos desdobramentos a que
os respectivos processos de uma chamada “educação das massas” acabaram levando.
De forma semelhante ao ocorrido nos tempos da intolerância medieval,
lamentavelmente hoje também têm sido impostos por educadores ateístas,
materialistas e evolucionistas, dogmas supostamente científicos, que não toleram
sequer o exame da viabilidade de alternativas que considerem o elemento
sobrenatural, no processo educativo, em manifesto desrespeito à personalidade
do educando em seus aspectos físico, mental e espiritual. Nesse contexto, vale
lembrar que uma das mais notáveis definições do processo educativo é a que se encontra
no livro “Educação”, como sendo “o desenvolvimento harmónico das faculdades
físicas, intelectuais e espirituais” (10)
No contexto secular atual, em que predominam os conceitos de
evolução em todas as áreas do conhecimento humano, talvez pudesse surgir alguma
dúvida quanto ao verdadeiro sentido da palavra desenvolvimento aí utilizada.
De fato, o conceito de evolução como apresentado
modernamente, está intimamente ligado ao conceito de desenvolvimento, e
poder-se-ia ser levado a considerar erroneamente o processo educacional como
integrado a um suposto processo evolutivo que tudo permeasse.
No entanto, o processo de desenvolvimento educacional,
implícito naquela definição apresentada para a educação, corresponde àquilo que
o texto bíblico relata quanto ao que ocorria com o desenvolvimento de Cristo em
sua infância e juventude:
• “Crescia o menino e se fortalecia, enchendo-se de
sabedoria; e a graça de Deus estava sobre Ele” (S.
Lucas 2:40). Eis aí um processo de crescimento, nutrição ou
desenvolvimento, harmónico – fortalecimento físico, sabedoria intelectual, e
graça espiritual.
• Em S. Lucas 2:52 é reiterado o processo educativo pelo
qual passava Jesus: “E crescia Jesus em sabedoria, estatura e graça diante de
Deus e dos homens”.
Voltando aos citados dois extremos excludentes do processo
educativo, levado ao nível da educação formal, verifica-se que o conflito entre
elas já havia transparecido nos tempos apostólicos, em particular quando o
apóstolo Paulo teve a oportunidade de discutir no Areópago com os filósofos de
duas correntes antagónicas – os epicuristas e
os estóicos. Epicuristas eram adeptos da estrutura
conceitual evolucionista introduzida por Epicuro desde o século quarto a. C.,
enquanto os estóicos, embora não sendo cristãos, eram adeptos da estrutura
conceitual criacionista, mantendo-se fieis às raízes tradicionais da religião
grega. (11)
Conforme o relato bíblico, naqueles tempos apostólicos havia
no mundo três grandes centros educacionais – Corinto, Éfeso e Atenas – nos
quais o cristianismo foi pregado especialmente pelo apóstolo Paulo, tendo então
ficado evidente o confronto entre as concepções distintas da educação pagã
(evolucionista) e cristã (criacionista).
“Pois Deus, na Sua sabedoria, não deixou que os seres
humanos O conhecessem por meio da sabedoria deles.” (I Coríntios 1:21,
NVLH)
“A sabedoria deles [hoje diríamos, “a ciência secularizada”
deles] foi a causa de não terem eles conhecido a Deus, e essa sabedoria era consequência
direta de sua educação, pelo que, foi a sua educação que os impediu de conhecer
a Deus. O desconhecimento de Deus, porém, constitui suprema ignorância.
Ignorância é falta de conhecimento, e se a educação deles os levou à
ignorância, a própria educação deles nada mais era senão suprema ignorância.” (12)
Paulo pregou também em Éfeso, durante mais de dois anos, e
depois escreveu para a igreja local: “Isto,
portanto, digo, e no Senhor testifico, que não mais andeis como também andam os
gentios, na vaidade de seus próprios pensamentos, obscurecidos de entendimento, alheios à vida de Deus por causa
da ignorância em que vivem” (Efésios 4:17-18).
“Novamente o relato bíblico deixa claro que o pináculo da
cultura humana, compreendida na educação, era naqueles dias mera ignorância –
os homens estavam ‘alheios à vida de Deus’ pela ignorância em que viviam. Pela segunda
vez fica claro que a educação contemporânea era mera ignorância.” (13).
Paulo esteve também em Atenas, o principal centro
educacional da época, cuja influência se faz sentir até hoje em nossos dias.
Lá, no Areópago, para onde quer que se olhasse só se viam imagens de ouro,
prata, mármore, esculpidas por artistas famosos. A sua educação os havia
conduzido à arte, e essa arte culminara na idolatria, sem o conhecimento de
Deus, como nos destaca o relato bíblico:
“Porque passando e observando os objetos de vosso culto
encontrei também um altar no qual está inscrito: Ao Deus desconhecido” (Atos
17:23).
“Novamente, nessa
confissão de desconhecimento do verdadeiro Deus encontrava-se implícita pela
terceira vez sua suprema ignorância – aquele altar era um monumento dos
atenienses à sua própria ignorância!” (14)
E em seu discurso continuou Paulo: “Pois esse que adorais
sem conhecer é precisamente Aquele que vos anuncio – o Deus que fez o mundo e
tudo o que nele existe ... que de um só fez toda a raça humana para habitar
sobre toda a Terra ... Não devemos pensar que a divindade é semelhante ao ouro,
à prata, ou à pedra, trabalhados pela arte e imaginação do homem. Ora, Deus não
levou em conta os tempos da ignorância, agora,
porém, notifica aos homens que todos em toda a parte se
arrependam” (Atos 17:23-30).
“Mas, arrepender-se do que? ... Na realidade, a filosofia, a
ideia, a própria concepção daquela educação, sua mola propulsora, era a dúvida.
E a dúvida leva aquele que a exerce ao desconhecimento, à ignorância. ... Sua ignorância
decorria de sua educação! Logo, o apóstolo estava-os concitando a arrepender-se
de sua educação! ... Arrependimento significa mudança de mentalidade, significa
deixar a mentalidade da dúvida e trocá-la pela mentalidade da fé. Significa
começar a trilhar um novo caminho, deixando de lado as coisas que para trás
ficam. ... A fonte da educação cristã é a fé, sem a qual não pode haver
verdadeira educação que restaure no homem a imagem de Deus.” (15)
Esse conflito, exacerbado no início da história da Igreja,
torna-se também implícito na advertência dada pelo apóstolo Paulo em I Timóteo,
capítulo 6, versículos 20: “E tu, Timóteo, guarda o que te foi confiado,
evitando os falatórios inúteis e profanos, e as
contradições do saber, como falsamente lhe chamam, pois
alguns, professando-o, se desviaram da fé”.
Cabe inserir aqui, finalmente, um precioso texto que se
encontra no livro “Testemunhos Seletos”, de autoria de Ellen G. White:
“O ideal do caráter cristão é semelhança com Cristo. Acha-se
aberta diante de nós uma senda de progresso contínuo. Temos um objetivo a
atingir, uma norma a alcançar, a qual inclui tudo quanto é bom, puro, nobre e
elevado. Deve haver constante progresso para diante e para cima, rumo à perfeição
do caráter.”(16)
A educação cristã é o processo pelo qual se realiza esse
progresso.
2.3. BREVES OBSERVAÇÕES ETIMOLÓGICAS E SEMÂNTICAS SOBRE
DESENVOLVIMENTO
Considerações semânticas adicionais quanto ao processo de
desenvolvimento no âmbito da educação cristã podem ser feitas, para deixar bem
clara a sua diferença com relação a qualquer suposto processo evolutivo: Desenvolvimento
deriva do verbo desenvolver, que os dicionaristas definem como fazer crescer,
mediar, prosperar, pôr em prática, exercer, exercitar, explicitar, crescer,
aumentar, progredir, aprimorar.
A raiz do verbo
desenvolver é derivada do verbo volver, cujo sentido é o de mudar de posição, voltar, retornar. (Volver
tem a ver com o processo de conversão, como se vê facilmente na voz usual da
ordem unida nos exercícios militares – “Direita, volver!”, “Meia-volta,
volver!”). Deste verbo provém também o verbo envolver, com o sentido de
abranger, encerrar, conter (por exemplo, em expressões tais como “envolto em
mistério”).
É curioso observar
que em diversas outras línguas o verbo desenvolver relaciona-se com o verbo
revelar.
Ao se adquirir um filme fotográfico, por exemplo, e ler as
instruções que são feitas no folheto explicativo que o acompanha, pode-se
facilmente constatar que a revelação do filme tem a ver com “desenvolvimento”.
De fato, exemplificando, em Espanhol desarrollar é o verbo usado para revelar
(ao mesmo tempo significando desenvolver), em Francês, analogamente,
developper; e em Inglês, to develop.
Na revelação de um
filme fotográfico (antes da era das modernas máquinas digitais omnipresentes atualmente)
vai-se de fato desenvolvendo um conjunto de reações químicas que gradativamente
vão formando na película a imagem daquilo que havia sido fotografado, e que
ainda estava “envolvido em mistério”, até finalmente ficar
impresso com nitidez. Numa fotografia obtida com câmara
polaróide fica visível em curto intervalo de tempo, esse processo de revelação,
que bem caracteriza o processo do desenvolvimento das faculdades que se realiza
através da educação.
No contexto da
educação cristã, portanto, o desenvolvimento nada tem de evolutivo no sentido
darwinista do termo, mas sim no sentido de uma revelação gradativa das
potencialidades intrínsecas do ser humano, como destacado no trecho seguinte do
já mencionado livro “Educação”, de Ellen White: “Cada ser humano, criado à
imagem de Deus, é dotado de certa faculdade própria do Criador – a individualidade
– faculdade esta de pensar e agir. Os homens nos quais se desenvolve esta
faculdade são os que arrostam responsabilidades, que são os dirigentes nos
empreendimentos, e que influenciam nos caracteres. É a obra da verdadeira
educação desenvolver esta faculdade, adestrar os jovens para que sejam
pensantes e não meros refletores do pensamento de outrem. Em vez de limitar o
seu estudo ao que os homens têm dito ou escrito, sejam os estudantes
encaminhados às fontes da verdade, aos vastos campos abertos a pesquisas na
natureza e na revelação.”(17)
3. CONCEITOS CRIACIONISTAS ESPECÍFICOS NA EDUCAÇÃO CRISTÃ
3.1. BREVE ANTOLOGIA DE CUNHO CRIACIONISTA REFERENTE À
EDUCAÇÃO CRISTÃ
Os “vastos campos abertos a pesquisas na natureza e na
revelação” foram explorados por pesquisadores que lançaram os fundamentos da
ciência moderna há cerca de dois séculos atrás, os quais mantiveram uma atitude
de reverência em face das notáveis evidências que encontraram em suas pesquisas
a favor de um Criador. Como exemplo típico pode ser citado Sir Isaac Newton,
que se manifestou da seguinte forma a respeito de seus escritos sobre o Sistema
Solar: “Quando escrevi meu tratado sobre nosso sistema (solar), tinha meus
olhos voltados a princípios que podiam funcionar considerando a crença da
humanidade em uma Divindade, e nada me dá maior prazer do que vê-lo sendo útil
para esse fim.” (18)
“Os movimentos que os planetas têm hoje não podiam ter
originado em uma causa natural isolada, mas foram impostos por um agente
inteligente.” (19)
Em outros escritos de Newton, fica clara a sua viva fé em um
Deus Criador, ao qual frequentemente ele se referia usando a expressão grega
“Pantokrator”, o Todo-Poderoso, “com autoridade sobre todas as coisas
existentes, sobre a forma do mundo natural e o curso da história humana”. Fica
clara a menção implícita feita por Newton ao quarto mandamento, que é o único
das Tábuas da Lei que apresenta o Deus
que estava escrevendo os Dez Mandamentos como Criador de todas as coisas:
“Devemos acreditar que há um único Deus ou monarca supremo a
quem podemos temer e obedecer e cumprir suas leis e honrar e glorificar.
Devemos acreditar que Ele é o pai de quem provêm todas as coisas, e que ama Seu
povo como Seus filhos, para que eles possam, em reciprocidade, amá-lO e Lhe prestar
obediência como seu Pai. Devemos crer que Ele é o “Pantokrator”, Senhor de todas as coisas, com um poder e um
domínio irresistíveis e ilimitados, aos quais não temos esperança de escapar,
se nos rebelarmos e instaurarmos outros deuses, ou se transgredirmos as leis de
Sua soberania, e dos quais podemos esperar grandes recompensas, se fizermos Sua
vontade. Devemos crer que Ele é o Deus dos judeus, que criou o céu e a Terra e
todas as coisas que neles existem, como
está expresso nos Dez Mandamentos, para que possamos
agradecer-Lhe por nosso ser e por todas as bênçãos desta vida, e nos abstermos
de usar Seu nome em vão ou de adorar imagens ou outros deuses.” (20)
De forma coerente com manifestações como essa, de Newton
(bem como de outros numerosos “pais da ciência moderna”), encontram-se no já
citado livro “Educação”, textos vários que destacam o inter-relacionamento do estudo
da natureza com o da revelação de Deus, no contexto do processo educativo em
conexão com a estrutura
conceitual criacionista, como os seguintes:
• “Desde que Deus é a fonte de todo o verdadeiro
conhecimento ... o principal objetivo da educação é dirigir a mente à revelação que Ele faz de Si
próprio”.(21)
• “Visto como o livro da natureza e o da revelação
apresentam indícios da mesma mente superior, não podem eles deixar de estar em
harmonia mútua. Por métodos diferentes, em diversas línguas, dão testemunho das
mesmas grandes verdades. A ciência está sempre a descobrir novas maravilhas;
mas nada traz de suas pesquisas que, corretamente compreendido, esteja em
conflito com a revelação divina. O livro da natureza e a Palavra escrita lançam
luz um sobre o outro. Familiarizam-nos com Deus, ensinando-nos algo das leis
por cujo meio Ele opera.” (22)
• “Inferências erroneamente tiradas dos fatos observados na
natureza têm, entretanto, dado lugar a supostas divergências entre a ciência e
a revelação; e nos esforços para se restabelecer a harmonia, têm-se adoptado
interpretações das Escrituras que solapam e destroem a força da Palavra de
Deus.”(23)
• “A natureza ainda fala de seu Criador. Todavia, estas
revelações são parciais e imperfeitas. E em nosso decaído estado, com
faculdades enfraquecidas e visão restrita, somos incapazes de interpretá-las
corretamente. Necessitamos da revelação mais ampla que de Si mesmo Deus nos
outorgou em Sua Palavra escrita.”(24)
• “Aquele que mais profundamente estudar os mistérios da
natureza, mais plenamente se compenetrará de sua própria ignorância e fraqueza.
Compreenderá que existem profundidades e alturas que não poderá atingir,
segredos que não poderá penetrar, e vastos campos de verdades jazendo diante de
si, não penetrados. Dispor-se-á a dizer com Newton: ‘Pareço-me com a criança na
praia, procurando seixos e conchas, enquanto o grande oceano da verdade jaz por
descobrir diante de mim’.” (25)
Sem dúvida, é este um conjunto de afirmações que não deixam
de ser impressionantes, não só por implicitamente caracterizarem a educação
cristã, seus caminhos e seus objetivos, mas também pelo fato de a posicionarem no contexto dos grandes
debates filosóficos e pedagógicos dos dois últimos séculos, particularmente perante
a crescente controvérsia entre o Criacionismo e o Evolucionismo, tão
intensificada a partir das últimas décadas do século vinte.
3.2. PRIMÓRDIOS DA EDUCAÇÃO CRISTÃ CRIACIONISTA NO BRASIL
Não obstante a catequese jesuítica ter-se iniciado no Brasil praticamente desde os primeiros
Governos Gerais, logo após o descobrimento, no início do século dezasseis,
indubitavelmente esse tipo de processo educativo (se assim o podemos denominar)
longe está de poder ser confundido com o que foi considerado no item anterior como
educação cristã.
A educação cristã, propriamente dita, na qual se insere a
educação criacionista pelo simples fato de que o seu fundamento básico é a
própria Bíblia, em cujo primeiro livro, primeiro capítulo, primeiro versículo,
se encontra a solene declaração de que “No princípio criou Deus os céus e a
terra”, teve realmente sua origem no Brasil com as primeiras escolas fundadas
pelos imigrantes luteranos, vindos da Europa em fins do século dezanove.
Por outro lado, talvez se pudesse afirmar que a educação
criacionista, preconizada pela Reforma Luterana, tenha tido a sua origem no
primeiro compêndio de sistematização detalhada da Pedagogia Moderna, de autoria
de João Amós Comênio: sua “Didática
Magna”, escrita em 1638. De fato, “Ele
considerava que a Bíblia, ao lado da natureza e da própria mente humana eram
livros reveladores da Pessoa do Criador e do conhecimento universal, mas que a
Escritura como revelação escrita de Deus, era a maior das três fontes de
conhecimento e a mais perfeita obra de literatura. ... Comênio, no processo de desenvolvimento
de sua teologia-educação, deu uma grande contribuição para a conjunção de
ciência e religião .... Comênio via a Bíblia como fonte de conhecimento científico.
Ele observou que o ponto de partida da abordagem científica era a investigação
de todas as coisas naturais, e que a Bíblia era a interpretação da natureza
criada por Deus. O espírito da ciência e a religião poderiam fazer o homem ver
a unidade essencial sob a diversidade superficial do mundo, uma vez que ambas
oferecem caminhos para o mesmo resultado. ... Neste sentido, Comênio não
aceitava a separação de ciência e religião ou razão e fé numa pedagogia que
poderia desenvolver o conhecimento humano universal.” (26)
A Reforma do décimo-sexto século havia sido uma tentativa de
colocar novamente o povo de Deus na posição de “educadores do mundo”. Martinho
Lutero, Melanchton, e outros reformadores viram a necessidade de estabelecer
escolas “onde quer que existissem filhos de Deus que houvessem aceito a
mensagem da salvação pela fé”, para que suas crianças não fossem educadas por
outros que não tivessem fé irrestrita na Palavra de Deus. Isso trouxe também
uma reforma nos métodos de ensino, nos livros-texto utilizados e nos conteúdos
ministrados até então. Em pouco tempo a Alemanha passou a ser coberta de
escolas paroquiais, tendo-se tornado uma característica da Igreja
Luterana o estabelecimento de escolas junto às igrejas.
Assim, no Brasil, alguns séculos após a Reforma de Lutero,
nas zonas de colonização que receberam imigrantes alemães, lá estavam também as
escolas paroquiais ao lado das igrejas luteranas.
No livro “Vida e Obra de Guilherme Stein Jr.” que apresenta
a biografia desse personagem que foi o primeiro educador adventista brasileiro,
há um capítulo especialmente dedicado às raízes da educação cristã no
Brasil. Foi nele ressaltado esse importante papel pioneiro
desempenhado pelas primeiras Igrejas Luteranas no Brasil, primando pelo
estabelecimento de escolas paroquiais onde quer que elas se estabelecessem,
como por exemplo, a
Escola Alemã de Campinas, onde o próprio Guilherme Stein Jr.
cursou os cinco anos de seus estudos primários, que sem dúvida foram
extremamente importantes para sua formação. (27)
Tendo em vista destacar a importância desse processo
educativo cristão criacionista em nosso país, já no início do século vinte,
além dos conceitos mais gerais, anteriormente considerados e expressos nos
trechos transcritos do livro “Educação”, cabe aduzir alguns outros conceitos,
expressos por renomados autores (evangélicos e não), bastante ilustrativos pelo
seu significado específico.
Assim, o historiador Domingos Ribeiro, em seu livro “Origens
do Evangelismo Brasileiro” falando das escolas evangélicas no Brasil, declara:
“O princípio evangélico do livre exame desperta as forças
latentes da intelectualidade, produzindo a fome e a sede do saber, apura o
senso de responsabilidade, que é o traço mais vivo e mais característico da
personalidade humana, capaz de atingir a sua finalidade terrena, espiritual e eterna”.
(28)
Essa manifestação torna claro o relacionamento existente
entre o princípio do livre exame aí destacado, e os demais princípios da
educação cristã que foram exarados na transcrição das citações do livro
“Educação” feitas anteriormente (particularmente nas Referências 21 e 24).
Continua Domingos Ribeiro a tecer considerações sobre o
processo educativo cristão, no seu livro mencionado, citando também o renomado
pastor presbiteriano Erasmo de Carvalho Braga, primeiro Presidente do Conselho
do Colégio Mackenzie:
“O objetivo do ensino evangélico é não somente a obtenção de
uma salvação pessoal, mas também a manifestação do patriotismo, o amor ao
próximo, o desejo de empregar todo e qualquer esforço e movimentos
concentrados, que tendam a purificar de
fraude a vida política, de crueldade a vida industrial, de desonestidade
a vida comercial, de vícios e depravação todas as relações sociais.” (29)
Transparece nos objetivos da educação cristã expostos acima
um posicionamento diretamente oposto ao daestrutura conceitual evolucionista no
contexto do chamado “Darwinismo Social”, que preconiza a luta pela sobrevivência
com o predomínio do mais forte, independentemente de qualquer aspecto ético, e
que certamente está situada na raiz das grandes frustrações elencadas pelo
Presidente da Harvard University em seu pronunciamento citado na Introdução
deste artigo.
Influências como estas, dos princípios da educação cristã,
também se haviam feito sentir de forma intensa no Brasil, desde as
manifestações de Rui Barbosa no Parlamento do Império, em contraposição aos
métodos jesuíticos que tradicionalmente haviam modelado a educação em nosso
país, especialmente no âmbito do estudo da natureza:
“Mas esse viciamento dos processos praticados no ensino
secundário resulta inevitavelmente da ausência do espírito científico, que só
se poderá incutir, restituindo à ciência o seu lugar preponderante na educação
das gerações humanas. ... Ora, a ciência é toda observação, toda exatidão, toda
verificação experimental. Perceber os fenómenos, discernir as relações,
comparar as analogias, e as diferenças, classificar as realidades, e induzir as
leis, eis a ciência; eis, portanto, o alvo que a educação deve ter em mente.
Espertar na inteligência nascente as faculdades cujo concurso se requer nesses
processos de descobrir e assimilar a verdade é o a que devem tender os
programas e os métodos de ensino.” (30)
Mais tarde, o grande educador brasileiro Fernando de
Azevedo, em seu livro “A Cultura Brasileira”, manifestou-se a respeito também da
influência benéfica da educação cristã em nosso país no âmbito dos processos pedagógicos:
“É por isto, devido a essa coexistência simpática da laicidade com as confissões
derivadas da Reforma, que as escolas protestantes tiveram, no regime
republicano, os rápidos progressos que lhes abriram, na história da educação no
País, não só um lugar indisputável mas uma fase fecunda de atividades
renovadoras. Foi em grande parte através das escolas, sob a influência direta
de ministros e educadores protestantes da América do Norte, que se processou no
Brasil a propagação inicial das ideias pedagógicas americanas que começaram a
irradiar-se em São Paulo com a fundação da Escola Americana em 1871 e do
Colégio Piracicabano em 1881 e que, antes de reflectirem no movimento de
reforma de Caetano de Campos, Cesário Mota e Gabriel Prestes em São Paulo
(1891-1895), haviam inspirado as reformas de Leôncio de Carvalho (1878-1879) e
o parecer de Rui
Barbosa (1882-1883), já modelado pelas ideias americanas e
alemãs.” (31)
Verifica-se, assim, nestes poucos exemplos citados, que em
pouco menos de um século foi reconhecida em nosso país, por eminentes
autoridades educacionais, a inestimável contribuição trazida pelos processos
educativos fundamentados na concepção da educação cristã introduzida
precipuamente pelas denominações evangélicas que aqui aportaram, desde o início
da imigração germânica.
Neste panorama, avulta hoje a importância de que se reveste
a rede de Escolas e Colégios Adventistas em nosso país, que se destacam como
verdadeiros baluartes especialmente no que se refere à focalização criacionista
dada em seus currículos no âmbito da educação cristã.
3.3. IMPORTANTES DOCUMENTOS ATUAIS
Todas as manifestações consideradas no item anterior
situaram-se no contexto social e político brasileiro predominante no fim do
século dezanove até meados do século vinte. Ainda hoje, entretanto, ao se
tratar dos princípios que têm norteado as mais recentes reformas do sistema
educacional brasileiro, novamente têm sido trazidos à consideração aspectos
intimamente ligados às mesmas diretrizes preconizadas desde o início do século dezassete por Comênio e instituídos
de maneira ampla no mundo evangélico após a Reforma religiosa do século dezasseis,
em sintonia com os princípios da educação adventista expressos nas citações
apresentadas no tópico 3.1 deste artigo. É o que se pode ver, por exemplo, em
um documento elaborado no final da década de 1990 por um renomado assessor
pedagógico do SENAI-Nacional, versando sobre a Política Nacional de Formação
Profissional: “O objetivo fundamental a ser buscado com a formação de
habilidades básicas é o de ensinar a pensar. Constata-se que este é um tema
ainda pouco exercido pela literatura pedagógica, e em torno do qual existem
concepções falsas. ... Aprender a pensar significa, entre outras coisas,
aprender a identificar e superar alguns erros típicos do pensamento,
aparentemente universais, como o apego ao
juízo inicial sobre o fenómeno; parcialismo (tirar conclusões a partir de informação
incompleta); visão estreita (ver somente o imediato sem inferir diante da nova
situação); egocentrismo (concluir a partir de seus conceitos e preconceitos);
arrogância (ficar com a primeira evidência que pode parecer lógica, sem seguir
buscando dados); polarização (crer que está certo porque o outro tem opinião
oposta); e o erro de priorização e extremismo (dimensionar mal a grandeza de um
fenómeno). Estes exemplos servem para aquilatar a complexidade das novas (sic)
tarefas da educação, que requer um rigoroso exame do sistema de formação
técnico-profissional e da educação em seu todo, de forma a adequá-la aos novos
paradigmas de formação que estão sendo demandados pela indústria e pela
sociedade em geral.”(32)
É impressionante a concordância entre posicionamentos
atuais, como este, de educadores interessados nos parâmetros para uma política
nacional de educação em nosso país, visando a uma verdadeira reforma
educacional, e as asserções anteriormente transcritas do livro “Educação”,
referentes à obra da verdadeira educação no desenvolvimento da faculdade de
pensar e agir, divinamente outorgada pelo Criador ao ser humano. (33)
Manifestações como essa são extremamente pertinentes, em
face particularmente em face dos confrontos entre as estruturas conceituais
criacionista e evolucionista no âmbito do ensino de ciências nas escolas de
nível médio e superior.
Nesse mesmo sentido, outro importante documento, elaborado
também no âmbito da Secretaria de Educação Fundamental do Ministério da
Educação, aborda alguns tópicos que são de suma importância no contexto da controvérsia
entre Criacionismo e Evolucionismo. Nesse documento, intitulado “Reflexões
sobre o Processo Ensino Aprendizagem do Conhecimento Químico”, são discutidas
algumas questões controvertidas, como por exemplo, a seguinte: “O conhecimento atual é transmitido como
verdade absoluta e não passível de mudanças?”. (34)
Uma indagação como esta pode ser generalizada para abranger
não só o ensino da Química, como também dos outros ramos da ciência.
Transcrevem-se a seguir trechos do respeitado Professor Pitombo (autor do
documento citado) que ilustram a preocupação legítima com o que deveria
constituir o correto procedimento no ensino das ciências: “Esta questão é
extremamente delicada. O conhecimento científico atual assumiu foros de verdade
absoluta. Todas as evidências experimentais e provas nos levam a crer que o
paradigma, modelo atual de partículas (átomos, moléculas) e suas propriedades,
não poderá se transformar. Entretanto, também sabemos que os fatos ocorridos no
mundo físico tiveram através dos tempos interpretações diversas, muitas vezes
consideradas como visões absurdas, dentro da nossa forma de pensar atual.
Pensadores gregos, egípcios, mesopotâmicos, árabes,
chineses, europeus, explicavam os fenómenos dentro das visões de mundo compatíveis
com a maneira de pensar de cada época – todas elas absolutamente respeitáveis e
consistentes com o pensamento contextualizado. ... O fundamental é transmitir
aos alunos que o que é aceito hoje poderá ser modificado no futuro, como já foi
anteriormente. ... É bem verdade que a transmissão desta posição é, como já foi mencionado anteriormente,
muito delicada. Todos gostamos – mais ainda o adolescente – de trabalhar com “ideias
certas”, com “verdades absolutas”. Entretanto, com a devida cautela e
pertinência, temos que transmitir aos alunos que todas as formas de pensar e
interpretar os eventos se transformam. ... Desta forma dever-se-á passar à ideia
básica: A ciência e as ideias estão ainda em transformação.” (35)
Estas observações complementam também particularmente as de
Rui Barbosa sobre o “espírito científico”, anteriormente expostas, e são
extremamente importantes dentro do conceito da educação cristã, no contexto da controvérsia
entre Criacionismo e Evolucionismo, que não se pauta por dogmas, mas sim pela
análise objetiva de dados observados e coletados. E é exatamente devido a esta
postura que jamais poderá haver discrepância entre a verdadeira ciência e a revelação
divina. (36)
3.4. A PROBLEMÁTICA DEFLAGRADA NA ERA ESPACIAL
Para encerrar este terceiro tópico, pela sua importância no
contexto da controvérsia entre as estruturas conceituais criacionista e
evolucionista, deve ser feita menção à iniciativa da “National Science
Foundation”, dos E. U. A., no final da década de 1950 e início da década de
1960, de patrocinar a edição de livros didáticos nas áreas da
Física, da Química, da Biologia, e das Ciências
Sociais.
Após o impacto causado na sociedade americana pelo
espetacular lançamento da cápsula espacial soviética “Sputnik”, em 1957,
despertou-se um enorme interesse pelo ensino de ciências em todos os níveis da
educação nos E. U. A.. Uma substanciosa dotação da “National Science
Foundation” incentivou então a publicação de novos livros texto de ciências,
dentro de uma nova postura, nas abordagens dos vários tópicos integrantes dos
currículos escolares.
Essa nova postura lamentavelmente destacou-se pela
“canonização” da estrutura conceitual evolucionista!
Esses livros-texto logo transpuseram as fronteiras
americanas e se espalharam por outras nações do mundo ocidental, aí incluído o
nosso país, onde foram amplamente divulgados pelo Instituto Brasileiro de
Educação, Ciência e Cultura (IBECC), e pela Fundação Brasileira para
Desenvolvimento do Ensino de Ciências (FUNBEC). Todos eles, entretanto, foram
estruturados dentro das ideias evolucionistas predominantes no modelo
materialista e ateísta da ciência moderna, mostrando-se na realidade bastante
dogmáticos sob esse aspecto, muito embora se apresentem como incentivando os
estudantes a adoptarem posturas de independência e iniciativa própria na
pesquisa dos fenómenos da natureza.
A iniciativa da “National Science Foundation” é bastante
ilustrativa no sentido de mostrar como a problemática da educação no mundo
moderno transcende os aspectos puramente pedagógicos – reforma educacional e
novos currículos – para envolver-se com questões metafísicas que se relacionam
com a filosofia da ciência e os valores éticos, morais e religiosos aceitos
pela sociedade – abordagem materialista, promoção do ateísmo – e até mesmo com
a segurança nacional – guerra fria tecnológica, conquista do espaço, e os
destinos do próprio país.
Nesse contexto de crise pedagógica, mais importantes se
tornam a preconização e a defesa dos princípios da educação cristã, que
orientam corretamente o desenvolvimento pleno das faculdades do ser humano para
viver no mundo de hoje refletindo o caráter do seu Criador, e para enfrentar as forças destrutivas do
ateísmo e do materialismo, que sob as mais diversas formas atuam para
contrapor-se ao grande plano de Deus para a salvação da humanidade.
4. CONCLUSÃO
Desde os tempos áureos da filosofia na Grécia antiga,
passando pelos tempos do início do Cristianismo e chegando a Comênio e a Lutero
após o período medieval, torna-se clara a existência de uma contínua
controvérsia entre as estruturas conceituais criacionista e evolucionista,
especialmente no âmbito dos processos educativos.
Na nova “plenitude dos tempos” que se desdobra no contexto
profético das mensagens angélicas de Apocalipse 14, passa a ser dado destaque
especial a essa controvérsia a partir de meados do século dezanove. De fato, ao
mesmo tempo em que passa a ser divulgada “com grande voz” a mensagem que
conclama os homens a adorar o Criador, também se inicia a pregação
evolucionista entronizando o mero acaso, na tentativa de destronar “Aquele que
fez”.
No decorrer deste cerca de século e meio, têm sido
evidenciadas amplamente as funestas consequências da secularização da sociedade
com a aceitação da estrutura conceitual evolucionista. O perigo impendente é
que até os próprios cristãos sejam levados de roldão por essa avassaladora onda
ateísta e materialista. O único verdadeiro antídoto certamente reside nos
princípios preconizados pela educação cristã, com ênfase especial dada à
estrutura conceitual criacionista baseada na revelação que nos é dada na
Bíblia.
A educação cristã não só proporciona o pleno desenvolvimento
das faculdades e potencialidades, dentro das limitações que ora pesam sobre os
seres humanos, mas também tem em vista a restauração da imagem de Deus que será
efetuada como resultado final da grande obra de redenção realizada por Jesus
Cristo, quando então:
“... todas as faculdades se desenvolverão, ampliar-se-ão
todas as capacidades. A aquisição do conhecimento não cansará o espírito nem
esgotará as energias. Ali, os mais grandiosos empreendimentos poderão ser
levados avante, alcançadas as mais elevadas aspirações, as mais altas ambições
realizadas; e surgirão ainda novas alturas a atingir, novas maravilhas a
adquirir, novas verdades a compreender, novos objetivos a aguçar as faculdades
do espírito, da alma e do corpo.”(37)
Que Deus nos possa conceder maior compreensão da importância
que está contida na tarefa da educação cristã que pesa sobre nós no lar, na
igreja e na escola. Como pais, professores e oficiais da igreja, possamos
ampliar nossa visão da responsabilidade que nos cabe, e possamos fazer cada vez
mais, conscientemente, aquilo que está a nosso alcance para atingir os
verdadeiros objetivos da educação cristã em toda a sua abrangência.
5. REFERÊNCIAS
(1) Vieira, Ruy Carlos de Camargo Vieira, “A Visão Criacionista da Educação”, Versão preliminar
da palestra
efetuada pelo Prof. Ruy Carlos de Camargo Vieira no dia 29
de janeiro de 1997 no Encontro de Professores da
APLAC realizado em Brasília, Sociedade Criacionista
Brasileira, 1997.
(2) The
Seventh-Day Adventist General Conference, “The General Conference Bulletin”
Thirty-fifth Session,
Fourteenth
Meeting, Oakland, Cal. April, 8, 1903, vol. 5, nº 8, pp.109-112.
(3) Review
and Herald Publishing Association, 1996, Seventh Day Adventist Encyclopedia,
vol. 11, verbete Sutherland, Edward Alexander.
(4) Idem,
ibid. Ref. (2), Twenty-fourth Meeting, vol. 5, nº 13, pp. 205-213.
(5) Review
and Herald Publishing Association, 1996, Seventh Day Adventist Encyclopedia,
vol. 10, verbete Jones, Alonzo T.
(6) Idem Ref. (2).
(7) Idem Ref. (2).
(8) Idem Ref. (4).
(9) Bréal, Michel e Bailly, Anatole, “Dictionnaire
Étymologique Latin”, 8ª ed., verbetes citados, Librairie Hachette,
Paris, 1918.
(10) White, Ellen G.,“Educação”, 3ª ed., p. 13, Casa
Publicadora Brasileira, Santo André, SP, s/d.
(11) Bill Cooper, “Depois do Dilúvio”, pp.20-21, Sociedade
Criacionista Brasileira, 2008.
(12) Idem Ref. (2).
(13) Idem Ref. (2).
(14) Idem Ref. (2).
(15) Idem Ref. (4).
(16) White, Ellen G., “Testemunhos Seletos”, vol. I, p. 605,
Casa Publicadora Brasileira, Santo André, SP, 1954.
(17) Idem
Ref. 10, pp. 16-17.
(18)
Westfall, Richard S., “The Life of Isaac Newton”, p.204, Cambridge: University
Press, 1993.
(19) Cohen,
Bernard, “Isaac Newton: Papers and Letters on Natural Philosophy”, p. 284,
Cambridge: Harvard University Press, 1958.
(20) Idem
Ref. 18, p. 301.
(21) Idem Ref. 10, p. 16.
(22) Idem Ref. 10, p. 128.
(23) Idem Ref. 10, p. 128.
(24) Idem Ref. 10, p. 17.
(25) Idem Ref. 10, p.133
(26) Ribeiro, Marco Antônio Baumgratz, “A Cosmovisão Teísta
como Fundamento Original da Moderna
Pedagogia”, Revista Criacionista nº 78, pp. 5-20, Sociedade
Criacionista Brasileira, 2008.
(27) Vieira, Ruy Carlos de Camargo Vieira, “Vida e Obra de
Guilherme Stein Jr.”, pp. 116-122, Casa Publicadora
Brasileira, Tatuí, SP, 1995.
(28) Ribeiro, Domingos, “Origens do Evangelismo Brasileiro”,
p. 106, Apollo, Rio de Janeiro, 1937.
(29) Idem, p. 95.
(30) Barbosa, Rui, “Discursos Parlamentares - Parecer sobre
a Reforma do Ensino Secundário e Superior (1882)”, Perfis Parlamentares 28,
pp.440 e ss., Câmara dos Deputados, Brasília, 1985.
(31) Azevedo, Fernando de, “A Cultura Brasileira”, pp.
367-368, Serviço Gráfico do IBGE, 1943.
(32) Mehedff, Nassim G., “Notas para a elaboração de um
Documento sobre a Política Nacional de Formação Profissional”, Documento de
circulação restrita elaborado para a Secretaria de Educação Tecnológica do MEC
como contribuição para o traçado de diretrizes para a Educação Nacional.
(33) Referência 10, particularmente pp. 16-17.
(34) Pitombo, Luiz Roberto de Moraes, “Reflexões sobre o
Processo Ensino-Aprendizagem do Conhecimento Químico”, Instituto de Química da
Universidade de São Paulo. Documento de circulação restrita elaborado para a Secretaria
de Educação Fundamental do MEC como contribuição para o aprimoramento do ensino
de Ciências no Brasil.
(35) Idem Ref. 34, p. 5.
(36) Idem Refs. 24, 22 e 23.
(37) White, Ellen G., “O Grande Conflito”, pp. 394-395, Casa
Publicadora Brasileira, 2000.