Letra: Fanny Jane Crosby (1820-1915)
Título
Original: To God Be the Glory
Música: William Howard Doane (1832-1915)
Texto Bíblico: Dêem graças ao Senhor pela sua benignidade, e
pelas suas maravilhas para com os filhos dos homens! Ofereçam sacrifícios de
louvor, e relatem as suas obras com regozijo! (Salmo 107:21 e 22)
“Exultai! Exultai! Vinde todos louvar
A Jesus, Salvador, a Jesus Redentor.
A Deus demos Glória, porquanto do céu
Seu Filho bendito por nós todos deu! “
Há palavras de louvor mais conhecidas ou mais amadas do que
estas em nossas igrejas? Dar glória a Deus deve ser o maior desejo de cada
crente e de cada igreja. Como diz Hebreus 2. 12: “Anunciarei o teu nome a meus
irmãos, cantar-te-ei louvores no meio da congregação”. Devemos estar sempre
prontos a louvá-lo por ter-nos enviado o nosso Salvador. Devemos sempre ser
aptos a reconhecer a mão de Deus, que nos abençoa em tudo que procuramos fazer
para ele em nossas igrejas. Johann Sebastian Bach teve toda a razão quando
declarou: “O alvo e razão de existência para toda a música deve ser nada menos
que a glória de Deus”. Glorifiquemos a Deus com este maravilhoso hino de
louvor.
A prolífica poetisa Fanny Crosby escreveu este hino. Difere
da maior parte dos seus hinos por expressar o louvor mais objetivo, e não o
típico testemunho ou a experiência pessoal característico da sua época.
Fanny Crosby nasceu no condado de Putnam, Estado de Nova
Iorque, em 24 de março de 1820. Seus pais, fazendeiros pobres, eram puritanos dedicados,
descendentes dos fundadores da Colónia da Baia de Massachusetts e membros da
igreja presbiteriana. Por causa de um tratamento errado duma inflamação dos
seus olhos, Fanny ficou praticamente cega com seis semanas de idade, podendo
perceber somente uma luz brilhante. Em novembro daquele ano seu pai, John
Crosby, morreu. Por necessidade, sua mãe. Mercy, foi trabalhar numa fazenda
vizinha, deixando Fanny aos bons cuidados da sua avó, Eunice. Para outra
pessoa, ser cega poderia ser o fim, mas não para Fanny. Sua avó decidiu ser
seus olhos. Dedicando-se de corpo e alma ao bem da sua neta, ensinou-a muitas
coisas que fariam dela uma menina independente e alegre. Dela Fanny aprendeu a
arte da descrição: dos pássaros, do pôr do sol, cujas cores ela podia às vezes
perceber vagamente, e das flores.
Dela Fanny aprendeu a amar e decorar a Palavra, a orar, a se
unir com os crentes na Igreja e cantar, o que Fanny amava demais, decorando os
Salmos com grande rapidez. Ainda criança, Fanny, quando desanimada pela cegueira,
perguntou a Deus se, mesmo cega, poderia ser uma filha dele. Testemunhou, mais
tarde, que ouviu a voz de Deus dizendo a ela; “não se desanime, menina. Um dia
você será muito feliz e operosa mesmo na cegueira”.
A tradução literal duma poesia escrita por ela aos oito anos
mostra sua personalidade:
Então pode chorar e soluçar porque sou cega
Oh, que menina contente sou eu,
Apesar de não poder ver,
Pois decidida estou que
Neste mundo alegre serei!
Quantas bênçãos recebo eu
Então pode chorar e soluçar porque sou cega
Porque isso não farei!
Com a idade de 15 anos, Fanny entrou no Instituto Para
Cegos, em Nova Iorque , com excelente aproveitamento. Continuou no seu hábito
de escrever poesia, muitas vezes solicitada a suprir a letra para músicas que
lhe eram entregues. Além de tocar violão, que aprendera quando criança,
tornou-se cantora concertista, pianista talentosa e proficiente e aprendeu o
órgão e a harpa. Ao se formar, tornou-se professora da instituição.
Em 1850, depois de passar alguns meses considerando se ela
era realmente salva, num camp meeting ao som do hino Por Meus Pecados Padeceu
de Watts, Fanny recebeu a certeza de sua salvação. “Minha alma inundou-se com a
luz celestial”, testificaria depois. Levantou-se exclamou: “Aleluia! Aleluia!”
Entregando sua vida totalmente a Cristo, ela disse: “Pela primeira vez entendi
que estava procurando segurar o mundo em uma mão e o Senhor na outra”.
Fanny começou a suprir letras para canções e cantatas do
destacado compositor George F. Root. Obtiveram muito sucesso. Mas o compositor
que usou a vida de Fanny foi Willian B. Bradbury. Procurando quem escrevesse
letras para seus hinos e ouvindo da capacidade de Fanny, procurou-a. “Fanny”,
disse ele, “dou graças a Deus que nós nos encontramos, porque acho que você
pode escrever hinos”. A seu pedido, Fanny escreveu um hino e lho deu. Bradbury
estava entusiasmado, e ali começou uma parceria que continuaria até a morte
dele. “Parecia que a grande obra da minha vida começara”, escreveu a poetisa
que continuaria a escrever, dando ao mundo mais de 9.000 hinos!
Aos 38 anos, Fanny casou-se com Alexander Van Alstyne,
músico cego, conhecido como um dos melhores organistas em Nova Iorque. Homem
bonito, jovial e muito apreciado, empregou-se em várias igrejas como organista
e ensinava órgão para sustentar a família. Tiveram um filhinho, mas esse morreu
na infância.
Poucos souberam sobre ele: “Van” compôs melodias para alguns
dos textos de Fanny, mas não perduraram. Um hinário que os dois prepararam não
foi aceito pela editora, porque, disseram, não queriam um hinário somente de
duas pessoas.
Nos anos que seguiram, Fanny continuaria a escrever letras
para hinos dos mais conhecidos hinistas. Chegou a usar 204 pseudônimos! Nunca
fez questão de remuneração adequada. Morava em lares muito simples, vivia
modestamente e dava muito do que recebia aos outros. Não se gabava na sua fama.
Conheceu mais de um Presidente do seu País. Foi a primeira mulher a falar
diante do Senado dos Estados Unidos. Pregava nos púlpitos de grandes igrejas e
fez conferências em muitos lugares. À sua própria maneira, tornou-se um dos
evangelistas mais proficientes da sua época. Amava o trabalho das missões como
o Exército de Salvação, Associação de Moços Cristãos, e a famosa Bowery, que
trabalhavam com os alcoólatras e necessitados. Cooperava nestes trabalhos,
dando muito de si.
Embora fosse mulher muito pequenina, parecia ter energia
ilimitada. Mulher de oração, nunca escrevia um hino sem ter orado, pedindo a
direção de Deus. Gostava das horas da noite para comunhão com seu Senhor.
Possuindo uma memória extraordinária, conhecia muitos livros da Bíblia de cor.
Nunca gostou de usar o Braile, e decorava seus textos, ditando até quarenta
deles de uma só vez à pessoa que consentisse em escrevê-los. Compôs músicas de
grande beleza, mas se recusou a publicá-las. Publicou cinco volumes de poesias.
Escreveu o libretto de um oratório.
Uma vez, questionada como podia escrever tantos hinos, Fanny
comentou:
“Que alguns dos meus hinos foram ditados pelo Espírito
Santo, não tenho nenhuma dúvida; e que outros foram o resultado de profunda
meditação, sei que é verdade; mas que o poeta tenha o direito de reclamar
mérito especial para ele mesmo é certamente presunção. Sinto que há um poço de
inspiração do qual podemos tirar os tragos efervescentes que são tão essenciais
à boa poesia. (. . . ) Às vezes o hino vem a mim por estrofes, e precisa
somente ser escrito, mas nunca peço que uma porção de um poema seja escrita até
que o poema todo seja completo. Então geralmente preciso podar e revisar muito.
Algumas poesias é verdade, vêm completas, mas a maioria, não. (. . . ) Nunca
começo um hino sem primeiro pedir meu bom Senhor para ser minha inspiração no
trabalho que estou a começar.”
Fanny Crosby, que ministrou e continua a ministrar ao mundo
todo com suas mensagens que “tocam o coração”, poucos dias antes da sua morte,
numa visita de obreiros, falou estas palavras muito significativas:
“Creio que a maior bênção que o Criador me proporcionou foi
quando permitiu que a minha visão externa fosse fechada. Consagrou-me para a
obra para a qual me fez. Nunca conheci o que é enxergar, e por isso não posso
compreender a minha perda. Mas tive sonhos maravilhosos. Tenho visto os mais
lindos olhos, os mais belos rostos e as paisagens mais singulares. A perda da
minha visão não foi perda nenhuma para mim.”
Fanny faleceu em Bridgeport, Estado de Connecticut em 12 de
fevereiro de 1915. A pedra da sua sepultura é simples. Como pedira; tinha
simplesmente as palavras Aunt Fanny – She Did What She Could. (Tia Fanny – Ela
fez o que pôde). Em 1955, um grande monumento foi erigido sobre o seu túmulo
homenageando esta serva de Deus e incluindo a primeira estrofe de Que
segurança! Sou de Jesus!
O compositor publicador William Howard Doane, um dos
parceiros mais bem sucedidos de Fanny, musicou esta letra e publicou o hino na
sua coletânea Brightest and Best (O Mais Brilhante e o Melhor) em 1875. O
ilustre hinólogo W. J. Reynolds acha estranho que o hino não fosse incluído
logo nas seis coletâneas de Gospel Hymns publicadas por Bliss e Sankey nos
Estados Unidos, porque Sankey o introduziu nas suas campanhas evangelísticas
com Moody na Inglaterra em 1873-1874 e incluiu-o nas suas coletâneas publicadas
naquele país, os Sacred Songs and Solos (Cânticos e Solos Sacros – coletânea
que continua a ser publicada até hoje), Por isso, o hino não foi bem conhecido
nos Estados Unidos até que a equipe de Billy Graham o trouxesse das suas
campanhas na Inglaterra em 1954. Assim, este hino favorito dos crentes
brasileiros foi redescoberto na América do Norte, tornou-se muito amado e
aparece em muitos hinários mais recentes.
O nome da melodia, TO GOD BE THE GLORY, corresponde ao
título original do hino, bem traduzido para o português, “A Deus Demos Glória.”
Este hino foi primorosamente traduzido pelo Pastor Joseph
Jones em 1887 e entrou nos hinários evangélicos mais antigos no Brasil.
Joseph Jones (1848-1927) nasceu em Portugal, filho de
ingleses. Em 1857, aos 23 anos, converteu-se através do testemunho de membros
duma família batista. Foi batizado em Londres. Retornou a Portugal e, onde
iniciou atividades evangelísticas. Apesar da perseguição, Jones abriu uma Casa
de Oração no subúrbio de Bonsucesso, na Ilha Mastro, perto do local onde mais
tarde seria construído o tabernáculo batista.
Bibliografia:
Jackson, Samuel Trevena. Fanny Crosby’s Story of Ninety-four Years, New York, Revell,
1915, p. 33, em: Ruffin, Bernard, Fanny Crosby, Philadelphia, PA, United Church
Press, 1976, p. 28.
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