Centenas de adventistas do 7° dia vieram de 90 países até Genebra para avaliar as possibilidades de parceria com a Organização Mundial de Saúde. A cooperação suíça relativiza.
É um aliança estranha ou uma parceria de razão? O fato é que a Organização Mundial de Saúde (OMS), sediada em Genebra e dirigida por 193 Estados-membros, trabalha intensamente com organismos religiosos para implantar princípios de saúde pública nas regiões mais pobres do mundo. Se a finalidade da parceria parece evidente, algumas questões fundamentais ainda não foram respondidas.
Higiene de vida exemplar
Enquanto a OMS quer passar uma mensagem estritamente pragmática, certas igrejas não concebem a saúde sem Deus. Centenas de membros da Igreja Adventista do 7° Dia (umas das maiores comunidades protestantes fundada em meados do século 19 nos EUA) estiveram na semana passada em Genebra para avaliar com especialistas da OMS uma forma de colaboração.
"As organizações religiosas de todas as confissões assumem 40% dos cuidados médicos no mundo. Há vários anos elas estão incluídas em nossas estratégias de saúde", afirma Ted Karpf, responsável de parcerias na OMS.
"Nosso projeto com os Adventistas do 7° Dia funciona nessa perspectiva. Eles são 25 milhões de membros e possuem cinco mil hospitais, sobretudo nos países pobres. Com uma higiene de vida exemplar – sem álcool, sem café, sem carne – a mensagem deles sobre a saúde é muito coerente. Além
disso, eles desenvolveram um sistema de comunicação muito sofisticado, via satélite, que lhes permite atingir as regiões mais distantes e menos favorecidas. Para nós, uma infraestrutura dessas é muito preciosa", explica Karpf.
Se distanciar do sistema messiânicodisso, eles desenvolveram um sistema de comunicação muito sofisticado, via satélite, que lhes permite atingir as regiões mais distantes e menos favorecidas. Para nós, uma infraestrutura dessas é muito preciosa", explica Karpf.
Mas como a OMS faz para apoiar programas de saúde e se distanciar do discurso messiânico? Para os adventistas do 7° dia, como para a maioria dos movimentos religiosos, bem-estar físico e espiritual são indissociáveis. Como lembra Allan Nandysides, diretor de saúde nas relações com essa Igreja, a OMS mantém critérios científicos.
"As nossas entrevistas de campo demonstraram que eles não utilizam a saúde para fazer proselitismo, garante o funcionário da OMS. Queremos que as Igrejas se desenvolvam segundo as prioridades da ONU, particularmente os objetivos do milênio para o desenvolvimento como o de reduzir a mortalidade infantil, melhorar os cuidados com a mães, combate à AIDS, ao paludismo e outras doenças. Cabe a eles saber até onde estão dispostos a colaborar."
Colaborações mais soltasFoi esse o objetivo da reunião de Genebra. "Estamos prontos a nos engajar em uma parceria de contrato legal, afirmam Allan Handysikes e Peter Lankless, especialista da Igreja para a prevenção do alcoolismo e das drogas. Esta etapa é prematura e implica concessões incompatíveis para as duas partes. Preferimos elaborar colaborações mais soltas.
Se a OMS pode aproveitar das excelentes infra-estruturas dos Adventistas do 7° Dia, estes também reconhecem que precisam, na era da mundialização, das redes e bancos de dados da OMS.
"A OMS pode nos ajudar no diálogo com os governos", confirma Peter Landless. "Além disso, a agência estabelece linhas diretrizes de boas práticas e identificou exatamente as necessidades em todo o mundo. Todos esses dados são indispensáveis para trabalhar de forma eficaz."
Enquadrar
Para Anne-Marie Holenstein, especialista em questões de desenvolvimento e religiões e consultor independente da Direção de Desenvolvimento e Cooperação (DDC, agência do governo suíço), essa colaboração é positiva. "Os adventistas não são uma seita e são interessantes do ponto de vista geográfico. É a Igreja protestante mais implantada no mundo (mais de 200 países)".
A especialista da cooperação suíça, contudo, faz ressalvas. "Seus adeptos aumentam de maneira muito rápida, o que significa que eles são muito ativos na evangelização. Órgãos como a DDC e a OMS devem questionar e impor barreiras. Eles utilizam seus serviços de saúde para fazer proselitismo? Seus hospitais são abertos a todos? Com que critérios eles avaliam a saúde espiritual dos pacientes?
"Trata-se de um conceito filosófico que não implica seletividade nos tratamentos de pacientes", afirma Ansel Oliver, porta-voz da Igreja, acrescentando que o pessoal médico é de várias religiões.
Mas, para Anne-Marie Holenstein, não pode haver colaboração sem acordo sobre os critérios e métodos de gestão. "As partes poderiam se entender sobre os riscos potenciais e sobe uma avaliação comum. É de interesse de todos os parceiros", conclui.
Carole Vann, InfoSud/swissinfo.ch