A Posição da Igreja Adventista sobre a Comercialização de Jóias?

A posição adventista sobre a comercialização de jóias fundamenta-se em dois princípios básicos: o primeiro é o compromisso adventista com a recomendação bíblica de abstenção do uso de jóias. O Manual da Igreja Adventista do Sétimo Dia (revisto em 2005), pág. 177, declara que “nas Escrituras é ensinado com clareza que o uso de jóias é contrário à vontade divina. ‘Não com cabeleira frisada e com ouro, ou pérolas, ou vestuário dispendioso’, é a admoestação do apóstolo Paulo (I Tim. 2:9). O uso de ornamentos de jóias é um esforço para atrair a atenção, em desacordo com o esquecimento de si mesmo que o cristão deve manifestar”.

Angel M. Rodríguez, diretor do Instituto de Pesquisas Bíblicas da Associação Geral, trata com muita propriedade este assunto no seu livro O Uso de Jóias na Bíblia (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2002).

Richard M. Davidson, diretor do Departamento de Antigo Testamento da Universidade Andrews, reconhece que houve ocasiões na história bíblica em que o povo de Deus sucumbiu ao uso de jóias. Mas, em períodos de especial consagração, Deus pediu que o Seu povo se desfizesse das jóias e adornos como um símbolo exterior de dedicação interior da vida a Ele. Foi assim, por exemplo, na dedicação de Jacob e a sua família em Betel (Gén. 35:1-4); na reconsagração dos israelitas após a idolátrica adoração do bezerro de ouro, no deserto do Sinai (Êxo. 33:5 e 6); e também na recomendação às mulheres cristãs no período do Novo Testamento (I Tim. 2:9 e 10; I Ped. 3:3-5). Já no livro do Apocalipse aparece um marcante contraste entre a grande meretriz “vestida de púrpura e de escarlata, adornada de ouro, de pedras preciosas e de pérolas” (Apoc. 17:4; cf. 2 Reis 9:30), de um lado, e a mulher pura “vestida do sol” (Apoc. 12:1) e a grande multidão dos glorificados “vestidos de vestiduras brancas, com palmas nas mãos” (Apoc. 7:9), do outro. Consequentemente, os adventistas entendem ser seu dever abster-se das jóias.

Um segundo princípio básico que fundamenta a posição adventista sobre a comercialização de jóias é que não devemos produzir e/ou comercializar aquilo que não usamos por estar em desacordo com os ensinos bíblicos. Por exemplo, nunca deveríamos produzir e/ou vender drogas e bebidas alcoólicas que nós mesmos não devemos consumir. Da mesma forma, não devemos fabricar ou comercializar jóias e ornamentos dos quais somos aconselhados a nos abster. É certo que Ellen White aconselha que “aqueles que têm braceletes e usam ouro e adornos, fariam melhor se tirassem esses ídolos de sua pessoa e os vendessem, mesmo que fosse por muito menos do que deram por eles” (citado em O Uso de Jóias na Bíblia, pág. 150). Mas esse conselho é que a pessoa se desfaça das suas jóias, sem nenhuma conotação de comercialização de jóias.

Existem, porém, aqueles que argumentam que essa é uma questão meramente cultural, e a única forma de subsistência disponível para eles. Mas o argumento cultural é desfeito, em grande parte, pelo simples fato de a abstinência de jóias ser enfatizada tanto no Antigo como no Novo Testamento, bem como no Espírito de Profecia (ver “Declarações de E. G. White Sobre Jóias e Adorno Pessoal”, em O Uso de Jóias na Bíblia, págs. 148-154). Como esses escritos foram produzidos em diferentes contextos culturais, mas são unânimes em recomendar a abstinência do uso de jóias, entendemos que tal abstinência é um princípio universal que transcende às diferentes culturas.

Por sua vez, a argumentação de que a comercialização de jóias é a única forma de subsistência para algumas famílias acaba refletindo a teoria existencialista de que “os fins justificam os meios”. Como adventistas do sétimo dia, devemos reconhecer que nem todas as atividades comerciais são condizentes com a fé que professamos. O exercício da religião exige, por vezes, renúncia e sacrifício. Portanto, recomendamos que, como cristãos adventistas, não produzamos nem comercializemos tudo aquilo que também não devemos consumir ou usar, incluindo a questão de jóias.

Texto de autoria do Dr. Alberto Timm publicado na Revista do Ancião (abril – junho de 2007).